A maioria dos africanos, até à contemporaneidade, não veio para Lisboa de livre vontade. Durante séculos desempenharam, enquanto escravos ou forros, tarefas indispensáveis, mas também as mais duras e mais desvalorizadas da sociedade. Na realidade, inseridos em todos os sectores criadores de riqueza, os africanos foram um elemento estruturante da vida urbana portuguesa, em especial a da capital. Cabe à História fornecer os elementos indispensáveis à reconstrução do passado, permitindo organizar a memória destes homens e mulheres, esclarecendo identidades. O objectivo deste itinerário é dar a ver a africanidade de Lisboa, dispersa numa pluralidade de memórias e de vestígios imateriais e invisíveis nos dias que vivemos. Percorrendo a cidade, munidos do conhecimento histórico, somos surpreendidos pela vigorosa presença africana que invadiu todos os espaços da sociedade lisboeta, reconstruímos uma Lisboa escondida e compreendemos, com mais clareza, não só comportamentos, valores, práticas que permanecem nos quotidianos urbanos, como também as reinvenções constantes da identidade portuguesa (Isabel Castro Henriques).